Essa realidade reforça que a crise climática é, simultaneamente, uma crise dos direitos das crianças, afetando diretamente saúde, segurança, educação e bem-estar geral
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A crise climática representa um dos maiores desafios globais da atualidade, envolvendo riscos ambientais e climáticos que já afetam populações em todo o mundo e que tendem a se intensificar ao longo do século devido ao aquecimento global. Trata-se de um fenômeno multissetorial, que impacta diversas áreas da vida humana, incluindo saúde, educação, segurança, participação social e acesso a recursos básicos.
Entre os grupos mais vulneráveis estão crianças e adolescentes, cuja exposição a riscos climáticos é particularmente preocupante. Segundo o Índice de Risco Climático Infantil (CCRI), desenvolvido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), cerca de 99% das crianças e dos adolescentes em todo o mundo enfrentam pelo menos um risco climático ou ambiental. O estudo considera não apenas a exposição a eventos extremos, como ciclones e ondas de calor, mas também a vulnerabilidade desses jovens diante dos riscos, incluindo seu acesso limitado a serviços essenciais.
A saúde infantil é especialmente sensível às oscilações climáticas. Crianças em fase de desenvolvimento têm maior dificuldade para regular a temperatura corporal e são mais suscetíveis a doenças respiratórias e infecciosas. Além disso, o aumento de doenças como dengue, malária e leishmaniose está diretamente relacionado à expansão de vetores provocada pelas mudanças no clima. Esses impactos diretos podem gerar consequências duradouras, comprometendo o crescimento, a saúde e o bem-estar emocional dos jovens.
No Brasil, as mudanças climáticas representam uma ameaça crescente aos direitos das crianças e dos adolescentes, afetando saúde, educação e qualidade de vida. Dados do UNICEF apontam que aproximadamente 40 milhões de crianças brasileiras estão expostas a múltiplos riscos climáticos, como calor extremo, enchentes e secas, o que compromete seu desenvolvimento integral e reforça a urgência de políticas públicas voltadas à proteção desse grupo.
Na educação, eventos extremos como os citados comprometem a infraestrutura escolar e podem interromper o calendário letivo. Em 2024, por exemplo, escolas no Rio Grande do Sul foram transformadas em abrigos temporários, afetando a rotina de milhares de estudantes. Essas interrupções, somadas às perdas de conteúdo escolar, colocam crianças e adolescentes em desvantagem no processo de aprendizagem, comprometendo seu desenvolvimento educacional e suas oportunidades futuras.
Dados do Instituto Alana mostram que em um terço das capitais brasileiras pelo menos 50% das escolas estão localizadas em “ilhas de calor” – regiões com temperaturas significativamente acima da média urbana, resultantes da escassez de áreas verdes e do excesso de concreto – e que carecem de infraestrutura adequada para suportar o aumento progressivo da temperatura.
Apesar de serem os mais afetados, os jovens têm se mobilizado para exigir ações concretas, demonstrando consciência crescente sobre a urgência de políticas públicas que promovam o alívio dos efeitos climáticos e protejam as futuras gerações. Garantir acesso a educação de qualidade, saúde adequada e um ambiente seguro e sustentável é fundamental para que crianças e adolescentes possam se desenvolver plenamente.
À medida que a COP30 se aproxima, diversas organizações ressaltam a importância de incluir a infância de forma estruturada nas discussões sobre o clima. Não é possível projetar um futuro sustentável sem garantir, desde já, o direito das crianças a crescerem em um ambiente saudável, com acesso à natureza e a uma educação de qualidade. A conferência climática deve se tornar um marco para repensar nossas cidades e construir um Brasil mais verde, justo e atento às necessidades das crianças.
Fontes: UNICEF, CNN Brasil e Nexo Jornal.
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