Priscila Canneori, professora e técnica curricular na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
Arquivo pessoal
Com 22 anos de experiência na Educação, a professora Priscila Canneori já passou por todas as etapas de uma carreira dedicada ao aprendizado. Hoje, embora não esteja mais em sala de aula, segue influenciando o ensino como coordenadora pedagógica, formando professores e produzindo materiais didáticos para a Secretaria da Educação de São Paulo. Antes, também trabalhou em centros de tecnologia e inovação, ampliando ainda mais sua visão sobre as diferentes possibilidades do ensino.
Para ela, o que mais encanta na profissão é a troca de saberes. “Procuro sempre manter um diálogo verdadeiro e me colocar em um lugar de aprendiz com os estudantes”, explica. Essa postura cria proximidade e confiança, mostrando que a educação é uma via de mão dupla: professores e alunos aprendem juntos.
Como professora de Arte, sua referência metodológica principal é a abordagem triangular de Ana Mae Barbosa, que combina apreciação, contextualização e prática. Originalmente voltada às artes visuais, Priscila adaptou-a para todas as linguagens artísticas, como dança, teatro, música e arte visuais. “Essa abordagem também me guia na formação de professores e na produção de materiais: penso no conteúdo, em como ele se conecta à realidade dos estudantes e em como pode ser significativo para a vida deles”, afirma.
Ao planejar suas aulas, ela busca equilibrar as diretrizes curriculares com os interesses da turma. O currículo fornece a estrutura necessária, mas conhecer os alunos permite incluir conteúdos que realmente despertem a motivação e a participação deles. Essa flexibilidade é uma das vantagens das metodologias ativas, que colocam o estudante como protagonista do aprendizado, ao contrário dos métodos tradicionais, mais rígidos e engessados.
A avaliação, segundo a educadora, é parte integrante do processo de aprendizagem. “Acredito muito na avaliação formativa. Desde o início, deixo claro o que espero que eles aprendam e acompanho o desenvolvimento ao longo do caminho. Assim, quando chega o momento da avaliação oficial, eles já sabem o que alcançaram e podem planejar seus próximos passos.” O foco, para ela, está sempre no processo, e não apenas no produto final ou no trabalho em equipe.
Os desafios existem, claro. Às vezes colegas questionam sua abordagem ou surgem divergências sobre algum estudante. Nessas situações, o diálogo com a equipe é essencial. Com os alunos, o desafio é ajudá-los a compreender seu papel no próprio aprendizado, mas cada dificuldade é vista como parte do crescimento.
Curiosamente, a entrevistada nunca recebeu formação específica em metodologias ativas. “Quando me formei, o ensino ainda era muito tradicional. Aprendi na prática e com estudos pessoais ao longo da carreira”, conta.
Ao assumir o cargo de técnica curricular, ela percebeu que sua experiência em sala de aula foi fundamental para manter a conexão com a realidade escolar. “O maior desafio de quem sai da sala de aula e continua na Educação é manter viva essa conexão. Se não estiver, corre-se o risco de produzir materiais ou orientações que não fazem sentido para quem realmente importa: os professores e estudantes”, explica. Ela destaca duas lições importantes que aprendeu na sala de aula: sempre se colocar no lugar do professor, questionando a viabilidade prática das propostas, e continuar pesquisando e mantendo contato com colegas e estudantes para se manter atualizada e conectada à realidade da escola.
A experiência como técnica curricular também mudou sua visão como educadora. “Quanto mais você ‘sobe’ na hierarquia, mais ganha uma visão macro, que ajuda a entender o porquê de algumas diretrizes, limitações e pressões que chegam à sala de aula. Muitas vezes, como professor, a gente pensa: ‘Ah, é culpa do governo’ ou de alguma instância distante. Mas quando você entende a lógica por trás, percebe que o problema muitas vezes não está só fora, mas sim na forma como aquilo é vivido na prática. Isso me fez valorizar ainda mais o significado das ações do professor e pensar em como cada orientação precisa fazer sentido para quem vai aplicar.”
Hoje, olhando para o futuro, Priscila enxerga a Educação diante de um desafio crescente: ensinar os estudantes a lidarem de forma crítica com o excesso de informações que os cercam. “Muitos acreditam que, só porque assistiram a um vídeo curto, já sabem tudo sobre um assunto. Precisaremos ensiná-los a selecionar, pesquisar, aprofundar e usar a informação de forma significativa.”
A trajetória da educadora Priscila Canneori mostra que ensinar vai muito além de transmitir conteúdos: é um exercício constante de empatia, adaptação e, acima de tudo, troca genuína de saberes.
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